sábado, 2 de maio de 2009

Revisitando Clarice

“ Sou o que se chama de pessoa impulsiva.

Como descrever?

Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente.

O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los.

Há um perigo! Se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido.

Estou num impasse.

Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta?

E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura.

Vou pensar no assunto.

E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei. ”



Clarice Lispector*



* Mas poderia ter sido eu quem escrevi, porque é a minha cara.

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