sábado, 21 de março de 2009

Uma última palavra...

Do meu grande amigo, Jacquinho:


Tudo acabou como o mar que destrói o castelo de areia. Sim, uma criança inocente o construiu, com toda ingenuidade e pureza que possa existir, com amor e estima. Foi fazendo cada detalhe, e o mar em momento de fúria não se conteve em estragar tudo. Culpa-se o mar pela fúria, falta de compaixão ou a criança inocente que ainda constrói castelos de areia...Fácil encontrar culpado em meio aos dissabores da vida, difícil é assumir a culpa, é pedir perdão, é se colocar no lugar do outro. É com o coração apertado que decido não mais construir castelos na areia, estou crescendo e sei qual o final dele. Vou embora construir casas firmes, onde o lobo mal não derrube com assopros. Ficam guardados na memória todos os deliciosos momentos ao sol, quando sentava e me divertia na areia, e me sentia realizado com a nova criação. Fica também a frustração de em algum momento perder tudo aquilo que projetei com tanto esmero, alegria e confiança. É com muita dor no peito, que dou adeus ao sol, a areia, aos brinquedos e principalmente a você castelo, e a você mar. Você que também fazia parte do meu castelo a piscina que me refrescava, outrora me fazia bem outrora me fazia mal.Adultos não fazem mais castelinhos na areia. Poderias tu mar me considerar em algum momento...Poderias tu compartilhar da minha alegria, ou poderias tu sentir o desespero do meu coração ao ver as ruínas de minha obra de arte... Ou, ainda poderias tu compadeceste dos meus esforços. Bravo mar, gigante mar, genioso mar, contigo aprendi muitas lições, e vou levar seja lá onde for, seja lá onde estiver minhas próximas construções. Perigoso mar, ainda não conseguir desvendar seus mistérios, não entendo seus critérios, és vulgar, és de todos, és tolo, maior que tu és o universo. Ah, traiçoeiro mar, quem se aventura por suas águas belas e astutas ondas... Quem se enganará com sua calma no domingo de manha e surpreendido com sua revolta logo mais à noite... Quem confiará dormir em suas águas que a todos refrescam...Saibas mar, que ainda que à todos banhe, uma hora precisarás de conforto em um só lugar, precisarás desaguar, e chorar e confiar... e, só em um lugar poderás fazer isso, então sentirás falta do rio. Sim, aquele corpo d”água infinitamente menor que você, mas doce, que ameniza suas salgadas águas, aquele corpo menosprezado por sua grandeza, traído por seu egoísmo, e por sua insaciável vontade de ser por todos adorado, e amado e usado. Apago-te da minha vida, sem lembrar do refrigério de suas águas, sem o teu sal colado em meu corpo, sem o caldos que me destes de surpresa, sem os choros dos castelos derribados, descanse em outro leito mar.Despeço-me de ti, com sentimentos diversos, mas com esperanças...De ter aprendido na lição dos castelos de areia, e construir um novo amor em bases sólidas...


Jacques Manz

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor. Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor. Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor. Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor. Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor. Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor. Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor. É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor... Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor? Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor. É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor. Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

sábado, 14 de março de 2009

Lirinha

A paixão é um mar

Parabólica

Dilatada

Estrada que dói

Encanto de flor

Labirinto

Espera de redes

Parece toda raiz

Só raiz

Quando não canta o trovão

Transfiguração





(Lira Paes)

Trecho da música do Cordel, Transfiguração

Não muito recente

São fofinhos e dançam muito !!

E o estilo, então ?

I've got sunshine

On a cloudy day

When it's cold outside

I've got the month of may

I guess you'll say

What can make me feel this way

My girl My girl My girl

Talking about my girl

I've got so much honey

The bees envy me

I've got a sweeter song

Than the birds in the trees

Well i guess you'll say

What can make me feel this way

My girl My girl My girl

Talking about my girl

I don't need no money

Fortune or fame

I've got all the riches baby

One man can clame

Well i guess you'll say

What can make me feel this way

My girl My girl My girl

Talking about my girl

Os Três Mal-Amados

João Cabral de Melo Neto


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

sexta-feira, 13 de março de 2009

domingo, 8 de março de 2009

Aversão a liberdade


O ser humano não é educado e nem preparado para a liberdade.
Por que será que existe a religião, o Estado, a civilização ?

Nossa essência é o descontrole.

Talvez seja a sociedade que nos modifique desde o início, na nossa primeira infância.

A liberdade é nociva, não sabemos lidar com ela quando a temos sob domínio.

Ela é mais profunda do que pode parecer.

Não é regra, mas bem é comum não saber o que fazer com o real sentimento de ser livre.

Até naquele sentimento superficial de uma viagem, ter muito dinheiro, estar sozinho ou da felicidade, é difícil. Difícil lidar com a supremacia do poder. Poder fazer o que quiser. Ser livre para poder. A liberdade é o próprio poder de ser.

Porque com a plenitude de ser livre mesmo, não sabemos lidar.

O indivíduo tem necessidade de limites.

E por isso é feliz prisioneiro até das suas idéias.







quarta-feira, 4 de março de 2009

Postando

Ufa!!
Que correria essa do cotidiano...
Eu que o diga!
Mas o mais legal de tudo é que eu estou fazendo aquilo que eu escolhi. Trabalhando agora com o que eu gosto, estudando o que eu gosto e me satisfazendo cada vez mais com esse meu novo e apaixonante dia a dia.
Tudo bem que está tudo apertado. Acordar, estagiar e depois assistir as aulas. Tá uma loucura.
Tem ainda todos os gastos das matérias que estão consumindo meu obscuro bolso. (Material caríssimo!! :P)
E ainda a vida pessoal.
Tudo exige muito de mim agora. Deus me dê força e resistência.
Espero pela recompensa futura, do prazer de continuar com mais "alívio" esse meu caminho.
Faço desse post a minha oração.
Amém!


Acho que vou sumir por algum tempo do blog.
Os motivos aqui estão esclarecidos.

Beijo grande!!