terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Tupi or not tupi - This is the question

As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão.

Relógio, por Oswald de Andrade

Para Expor





Atenção, vamos à mostra,

vindo diretamente do íntimo, interno e turvo.

O que a gente nem ao menos profere, pensamos de vez em quando,

no mais secreto silêncio...

Aquilo sobre a mudez pálida

Entre o absurdo e inconstante

Num local sem descrições maiores

para no sigilo se expôr à vontade.

E que só os mais intensos raios de luz ousam tocar, mas audaciosos em

Sua luminosidade tácita, pasma
E transitória...

Talvez de lá do querer profundo venham

à exibir-se,

Em alguma dessas noites
iluminadas pelo luar do romantismo (em evasão).
Talvez agora fujam à brisa marinha,
estes tímidos e secretos sentimentos...



26/07/2.004

Múltipla

Contra-partida
Contra-mão
Em toda via contrária
a minha
mente contraditória,
descontrolada,
em um múltiplo
pensamento
inconsciente,
inóspito e nu.
Com tradução
a minha mente
é comum a sua,
a minha, a nossa, delas,
sem dono e
arrogância
de ser domada.
Múltiplo, operante,
decadente,
congruente em ser
um monte.
Sou muitas
contra o desejo latente de ser uma
só.

25/03/2.005, também foi escrito a lápis uns bons anos atrás.

QUANDO O Amor ao

... dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos,
saibamos fazer pausa para olhar os lírios do campo
e as aves do céu!

Érico Veríssimo °º

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Lisbon Revisited

Álvaro de Campos
Lisbon Revisited
(l923)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Comunidade relacionada no orkut :
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=15470070&refresh=1

O Anjo Mais Velho


Assisti uma vez o show. Estava cheio o lugar... tinha muita gente e eu fiquei encantada com todas as cores, porque parecia que até o que eles cantavam e recitavam era colorido... Eles representavam, estavam todos pintados como num teatro de poesia e música ao ar livre. Lá bem fundo, atrás de toda multidão que fazia coro com o vocalista, ficavam algumas artistas de circo que se equilibravam em grandes pedaços de tecido. Adorei, fiquei prendida no encanto do público e do espetáculo também, além das músicas que são toques ternos de poesia e teatro... mágico mesmo.
Tocaram além de outras essa música:

"O dia mente a cor da noite

E o diamante a cor dos olhos

Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado

Aqui do outro eu consigo me orientar

A cena repete a cena se inverte

Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história

Tua verdade fazendo escola

E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim

Agora é assim

De um lado a poesia, o verbo, a saudade

Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim

E o fim é belo incerto... depende de como você vê

O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar

Vou me lembrar de você

Só enquanto eu respirar



Composição: Fernando Anitelli

do TEATRO Mágico

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Autobiografia Sem Factos - 10, pág 53, do Livro do Desassossego



E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouví-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que não me recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Saudações à menina de 4 anos atrás : )








Corpo sereno, pausado, braços abertos


Calma que paira, luz intensa


Olhos fechados, cerrados, certos


Brisa fresca, freqüente, progressiva




Em meio ao verde, rosas multicoloridas


Dia claro, noite eternizada


Ares em movimento, pensamento alado


Calor que cessa, idéias esquecidas




Eu perdida dentro de mim,


mas situada ao frescor desse vento


Que nesse largo e infinito momento




Chora lágrimas de maciez tamanha


Altura sublime adquirida, inebriante


Desejada em quimeras a tal força estranha...






(o vento!)










11/01/2004, Itabuna-BA (achado num papel escrito a lápis)