quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Necrológio dos Desiludidos do Amor - CDA

Os desiludidos do amor

Estão desfechando tiros no peito.

Do meu quarto ouço a fuzilaria.

As amadas torcem-se de gozo.

Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,

Escreveram cartas explicativas,

Tomaram todas as providências

Para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.

Eu vou, tu ficas, mas nos veremos

Seja no claro céu ou no turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia

Dos desiludidos que se mataram.

Que grandes corações eles possuíam.

Vísceras imensas, tripas sentimentais

E um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério

Levar os corpos dos desiludidos

Encaixotados competentemente (paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,

Sem coração, sem tripas, sem amor.

Única fortuna, os seus dentes de ouro

Não servirão de lastro financeiro

E cobertos de terra perderão o brilho

Enquanto as amadas dançarão um samba

Bravo, violento, sobre a tumba deles.

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